quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Você tem dó do alface? E de 815 milhões de pessoas?


“Ser vegetariano não serve pra nada“, “você não tem dó do alface?“, “os animais estão ai pra serem mortos“. As frases ignorantes de quem sofre da falta de informação ou do excesso de informações erradas assustam. Como diria Paul McCartney, se os abatedouros tivessem paredes de vidro, todos seriam vegetarianos. No entanto, relevando as questões éticas, o vegetarianismo e mais ainda o veganismo (onde não há o consumo de nenhum produto derivado de animais) estão de mãos atadas à sustentabilidade.
Segundo o site da ANDA (Agência de Notícias de Direitos Animais), ao se tornar vegetariano, cada indivíduo é capaz de economizar 5 milhões de litros de água e salvar 5 mil metros quadrados de árvores por ano. Este ato de solidariedade para com o planeta ajuda a combater os principais problemas sociais que nos afligem: fome e sede.
Em terceiro lugar como agravante do aquecimento global estão os gases de ruminantes (vacas, carneiros e cabras). Foram estimadas emissões de 9,2 milhões de toneladas de metano proveniente da pecuária, considerando animais ruminantes, falsos-ruminantes e produção de dejetos animais, já em 1995, (Embrapa, 1999; IBGE, 1997).
“Poderíamos nutrir hoje uma
população só prevista
para 2050.”
Os dados são alarmantes e não podem mais ser ignorados. A entidade de defesa animal ONCA listou 26 tópicos mostrando o impacto ambiental do consumo animal. Dois deles são suficientes para demonstrar o tamanho do problema. 20 vegetarianos podem ser alimentados com a quantidade de terra necessária para alimentar uma única pessoa consumindo uma dieta à base de carne. Apenas a quantidade de comida consumida pelo gado mundial atualmente alimentaria mais de 9 bilhões de pessoas. Sabendo-se que a população humana mundial é de 7 bilhões de pessoas, a quantidade de alimentos destinados ao gado hoje seria suficiente para alimentar toda a população humana do globo e ainda haveria sobra de alimento. Poderíamos nutrir hoje uma população só prevista para 2050.


Peter Webb conta sobre energia, sementes e reflorestamento


Peter Webb, australiano formado em agricultura biodinâmica na Inglaterra, mora há 27 anos no Brasil à procura da abundância, exuberância e pluralidade oferecidas por nossa natureza. Pete, como gosta de ser chamado, morou os primeiros anos de sua vida nas montanhas Andinas além de quatorze anos de uma vida solitária e autossustentável em Matutu, Sul de Minas Gerais. “Sou sonhador e realizador” afirma.
Durante sua moradia em Matutu, obteve contato sensível com a natureza, o que não é possível na cidade, decidiu então que deveria compartilhar estes conhecimentos com outros agrônomos e interessados. “A sociedade em que vivemos é individualista, quando como seres sociais, deveríamos manter-nos em contato” diz Pete, e complementa “temos uma visão simplista do ser humano. Aprendemos na escola tudo de forma classificada e racional, quadrada. No entanto, na vida tudo interage 24 horas por dia, e assim não podemos racionalizar”. De início, deve haver auto reconhecimento, e compreensão de que as mudanças fazem parte da natureza humana. Segundo Pete, essa busca pela verdade sobre si envolve felicidade e bem estar.
A ecopsicologia desenvolvida pelo agricultor no Sítio Vida de Clara Luz, em Itapevi, considera que nossa espécie age dentro de um palco montado, onde o planeta ensaia antes do ser humano. “A natureza é super talentosa e cheia de identidade. É o plano de fundo para o palco da vida”. Super talentosos também são os seres humanos, para Pete cada indivíduo tem sua identidade que vive em constante mudança, como a água que passa e energeticamente carregada e leva informações, como livros.
Como trabalho fixo Peter Webb faz o reflorestamento em uma pedreira na zona oeste de São Paulo. As árvores são plantadas em pontos onde o solo é mais poderoso energeticamente. Pete conta que anda com varetas e pêndulos para encontrá-los, mas que antigamente não era preciso, os pontos energeticamente fortes eram facilmente identificados por qualquer indivíduo. “Antes estes pontos eram onde os caminhos se cruzavam. Onde havia a troca de informações, a conversa, onde havia um banquinho e as pessoas passavam horas trocando experiências” relata. A igreja percebeu isso a muitos anos, as grandes catedrais, mais especificamente os altares, são construídos nestes encontros.
A relação do brasileiro com a Austrália é muito boa, muitos brasileiros se mudam em busca de melhores condições de vida. Para isso Pete também tem uma explicação. “O Brasil é um país regido pela água e pelo ar, portanto, aqui tudo é muito volúvel e está em constante mudança. A Austrália, no entanto, é um país de terra e fogo, o que o faz um país de realizações matérias, concretas”.
Filho de jornalista Pete ressalta a importância do ‘espaço entre as palavras’, aquele momento em que podemos ser criativos e usar nossa imaginação para sair do simples ‘ser’ e participar da história. “Gosto da expressão bomba de sementes, não me refiro somente àquelas plantadas, que um dia germinaram uma linda planta, mas as sementes de ideias, que levam ao questionamento, o despertar” e continua “vejo zumbis nas ruas, cada um no seu smartphone. Todos perderam a sensibilidade”.

Agenda 21, um exemplo no Litoral Norte


Instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis,  Agenda 21 visa o desenvolvimento humano, a justiça social, a sustentabilidade econômica a qualidade de vida e o respeito à natureza, foi um dos principais documentos assinados na Eco-92, ocorrida no Rio de Janeiro, em 1992. Assinado por 179 países, possui quarenta capítulos e tem como lema “pensar globalmente, agir localmente”.
Agenda 21 no Litoral Norte de São Paulo
Quatro municípios do Litoral Norte, Ilhabela, São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba implementaram suas Agendas 21 como propostas de governo. “Houve um tempo em que essas Agendas 21 eram fortes, e contavam com a participação de uma parcela considerável de pessoas, haja vista que em questões de participação popular o voluntarismo é bem difícil de conquistar” afirma Iraê Abate, ambientalista e implementador do Fórum de Agenda 21 Comunitária, nos bairros da Topolândia e Olaria, São Sebastião.
O projeto está sendo patrocinado pela Petrobrás que entendeu ser necessária uma intervenção positiva em todos os bairros onde se relaciona de alguma maneira. Dois bairros escolhidos em São Sebastião, por exemplo, fazem fronteira direta com os tanques de estocagem de petróleo. Nestas áreas existem colônias de pesca bem organizadas do ponto de vista político, os funcionários públicos têm sindicatos e a tribo indígena inicia um processo de inserção na sociedade branca. “Precisaríamos evoluir como sociedade na busca de uma maior participação popular mesmo em ações que são de interesse coletivo” relata Iraê.
É imprescindível na construção da Agenda 21 a participação das escolas, que são convidadas para todas as etapas. “Na formação do Fórum, daremos um assento para a escola do bairro, e iniciaremos, então, um processo de conscientização dentro do corpo docente e, posteriormente, discente”, acrescenta.

A mídia de controle


O controle da mídia e de grandes instituições sobre a população foi muito discutido com o começo das manifestações, que visavam, a princípio,  a diminuição da tarifa do transporte público. Estas manifestações tomaram conta do país e agregaram causas que sempre estiveram presentes na vida da população brasileira como a precariedade do sistema de saúde, educação e moradia.
A internet foi grande aliada dos manifestantes, mostrando desde o começo a verdade sobre tudo o que estava acontecendo, além de ajudar na organização e reunião para que houvessem atos realmente significativos. A grande mídia demorou mas sentiu-se obrigada a mostrar a verdade, quando foi ameaçada de boicote. Para entender melhor a domínio de poucas empresas e a influencia da mídia na opinião pública devemos retornar ao início do que chamamos de esfera pública e ao surgimento da indústria cultural.
A esfera pública surgiu mediante a um Estado que tinha o poder dominante sobre a sociedade e estava ancorada ao desenvolvimento do modo de produção capitalista e ao desenvolvimento da imprensa. Antes deste nascimento somente o clero e poucos homens eram capazes de questionar e criticar, pois o acesso a obras literárias e filosóficas era reduzido. Com a criação da imprensa os livros começam a integrar o espaço público que se torna espaço de democratização e de circulação de conhecimentos, submetendo o interesse privado ao interesse público.
O jornal identifica o interesse público e deixa evidente a hierarquia da sociedade ligada ao conhecimento, o espaço público torna-se mais dinâmico, mas torna-se também refém dos poderes da mídia. Quando há o surgimento da imprensa, ainda são poucos os homens que sabem ler, porém estes passam aos outros as informações lidas e há um maior convencimento da população mais “simples” com o diálogo do que com as notícias impressas propriamente ditas (assim como nas manifestações alguns grupos convenceram outros de que seria certo lutar por seus ideais). No entanto a midiatização, propagandas políticas e econômicas, levam a esfera pública a uma queda, anulando o tempo e o espaço de reflexão.
O surgimento dessa esfera tem caráter emancipatório da burguesia que procura combater a desigualdade gerada pelo sistema capitalista. Nesse contexto, com o intuito de evitar possíveis revoltas, o Estado passa a atender as reivindicações da burguesia, através de proteção e legislação e de instituições como escolas e igrejas (que dividem o dever do Estado para com a população, deixando cada divisão com um pouco do peso) dividindo a esfera privada.
A “indústria cultural”, que surge com o aparecimento do capitalismo e com a revolução industrial no séc. XVIII, tem como base o consumo e transformação de arte em mercadoria (um vaso produzido por um artesão, por exemplo, agora é produzido por máquinas e por várias pessoas, cada qual especializada em uma parte do processo, aumentando a produção) esta nova “indústria” seduz a sociedade a partir de propagandas que promovem a ideia de que só é feliz quem tem a mercadoria (por exemplo a Coca-Cola que tem como chamada “abra a felicidade você também”, vendendo não o produto mas o sentimento). Esse mecanismo de controle torna a população passiva e incapaz de escolher por si própria, dita o modo de vida, a roupa, a comida. A comunicação passa de horizontal para vertical, agora é influenciada pelo Estado, pelo capital e pela comunicação social o que é essencial para que haja manipulação. Isso não quer dizer que a população aceita ser controlada, mas se conforma com isso.